terça-feira, 19 de agosto de 2025

DANDARA DOS PALMARES E SUAS FALANGES - PEÇA TEATRAL

 

DANDARA DOS PALMARES

Cena 1

Um preto velho em cena:

Pouco se sabe da história de uma mulher que existiu...

Existiu

Resistiu

E desapareceu no abismo

Preferindo o vazio

Do que o julgo frio

Daqueles que pensam em escravizar

Seu Nome?

Dandara dos Palmares

Líder negra

Mulher de Zumbi

Heroína sim da Pátria

Apagam se as luzes e uma silhueta de mulher

A voz da mulher diz

Serra da Barriga

A altura da resistência

Buscando liberdade

E dizendo não

Ao tormento da escravidão

1694 o ano em que a força se fez

Onde a vida com altivez

Se jogou da Pedreira

Indo ao Paraíso

Para não voltar à Escravidão

O que é escravizar ]?

É subjulgar

E a escravidão de agora?

Aflora

Em sentido do egoísmo

E na força do negacionismo

Quem diz não contra a escravidão

Está realizando nobre ação

De refutar qualquer tipo de desamor

A luta é por amor

Repartido e construído

Na certeza da paz

Viva Dandara mulher guerreira

Que com altivez

Lutou pela liberdade

Cena 2

( Um grupo de guerreiros)

Chico Zambi – Vão invadir o Quilombo  - Temos que fazer alguma coisa

Entra Dandara que começa uma GINGA DE CAPOEIRA

Sou Maria Felipa, Sou Luiza Main  Sou Marielle, Sou Tia Ciata, sou você, sou todos aqueles que dizem não ao racismo

Apagaremos com força e alegria os rastos do racismo

Não à escravidão

Não ao egoísmo

Não à discriminação racial

Não ao racismo estrutural

Não ao sentido podre do poder

Não ao enbraqueamento da população brasileira

Palmares tem vida

Tem policultura

Tem cuidados com a agricultura

Temos madeira e cerâmica

Temos milho, mandioca, feijão, batata doce, cana de açúcar e banana. 

Temos óleo da pindoba

Temos liberdade

E tudo aqui é coletivo.

Cena 3

Entra GANGA ZUMBA

Bonecos articulados de ZUMBI, GANGA ZUMBA E DANDARA

Ganga Zumba – Acabei de fazer um acordo com o governo.

Zumbi – Como assim?

Ganga Zumba – Veja o que teremos que fazer

autoridades libertassem palmarinos que haviam sido feito prisioneiros em um dos confrontos.

 E também a liberdade dos nascidos em Palmares, além de permissão para realizar comércio.

Em troca, a partir dali, os habitantes do quilombo deveriam entregar escravos fugitivos que ali buscassem abrigo.

Zumbi – E o fim da Escravidão ?

Ganga Zumba – Não faz parte do acordo.

Dandara -  Isso é inaceitável. Soa como traição

Zumbi – Sim traição

( GRITOS DE TRAIÇÃO SÃO OUVIDOS VÁRIAS VEZES)

Ganga Zumba bebe um líquido e cai morto.

Cena 4

Zumbi – Agora é luta

Dandara – Força e ação

Zumbi – Faremos da disputa

Dandara – E diremos sempre não

Zumbi -  A toda forma de racismo

Dandara – Nosso ambiente prevê igualdade

Zumbi – Força e Fraternidade

Dandara – Mas temos exército palmerino

Zumbi – Firme e ladino

Dandara – Em busca de nossos ideais

Zumbi – Daremos nosso legado

Dandara – Do valor encantado

Zumbi – Da liberdade

Dandara – Aqui todos são iguais

Zumbi – E a igualdade se faz

Dandara – Na repartição das iguarias

Zumbi – Pois sabemos que em um dia

Dandara – A liberdade vai chegar

Cena 5

Um ator entra com várias máscaras e começa a falar:

- não sei qual o rosto de Dandara.

- não sei da vivência real da guerreira

- Sei que sua força não para

- O desejo da alma brasileira

- De dizer não ao racismo

- A Guerreira que disse não à escravidão

- A imagem dela é sua

- Que luta nas praças e nas ruas

- Por liberdade

- Por equidade

- E pela certeza da esperança de viver

- Em liberdade

UM QUILOMBOLA DIZ:

Recebi uma carta e vou chamar de CARTA DE LIBERDADE

É de Dandara,

Tantas Dandaras dizem não ao racismo...

 

 

 

Narração:

TOCA MÚSICA E DANDARA FAZ COREOGRAFIA

Eu pari três filhos pretos e, quando eles ainda não conheciam direito o mundo, tiveque deixá-los. A minha luta não pesava só no meu ombro. Eu queria proteger meus meninos. Eu não fiz isso por gosto, mas com a boca amargando de dor. Eu me fui. Mematei! Preferi a morte à escravidão. Sem pensar duas vezes, me joguei daquelapedreira direto pro fundo. Eu já estava morta. O corpo vivia, mas a certeza já estava finada. Arrancaram minha coragem pelos olhos, entupiram meu nariz com medo, furaram meus olhos de tanta culpa. Eu vivi coisa que nem o Diabo pinta a sangue. Eu caí no abismo que cavaram para mim e pra Zumbi, e só me restava o caminho pro fim. Eu precisava parar de respirar pra salvar um pouco de ar, pra deixar minhas crias vivas. Ou eu me matava, ou eles matavam meus filhos. A história não explica, só condena. Quem conta não sente nada, só espreita. Quem ouve nem sempre entende, mas julga. Mulher assim como eu, que nasceu pra ser gente, não aceita cabresto. Ah, o ódio é um veneno eterno. Eu morri toda coberta por ele. O meu companheiro foi traído na luta por um irmão que se dizia aliado, um irmão que tramava em suas costas. O pior dos açoites é a gente acreditar que pode ser um deles. Quando a traição parececom você, é como se o espelho o enganasse. Aquilo que não falha estilhaça na sua cara, e o seu próprio reflexo não é real. Zumbi preferiu se entregar aos inimigos paraevitar um mal maior. Foi fuzilado, seu corpo foi cortado em partes. Membros, tronco, cabeça, ele todo espalhado pelo Recife. Mas os meus filhos Motumbo, Harmódio e Aristogíton, eles viveram. Todos os meus filhos sobreviveram. No entanto, de suas bocas ninguém nunca ouviu sequer uma palavra. Pois eles aprenderam cedo que oar, quando é pouco, é só pra respirar. Seguir vivo é o nosso primeiro ato de luta. Euvivo neles e eles se multiplicaram. Hoje eu sou mãe de milhões e milhões de filhas e filhos, e meu ventre recebe cada um de vocês de fora pra dentro. Quero que pousesob meus pés todas as devidas oferendas que mereço. E cada mão alivia o ódio que me matou. Sim! Eu lutei por nós. Eu morri pela nossa cor. Sou o espírito livre de Dandara dos Palmares.

In Monocontos: histórias para ler e encenar, p. 147-8)

De: Elisio Lopes Jr.( JUNTO COM A NARRAÇÃO UMA VOZ DOLENTE NUM CANTO DE DOR)

fim

 

 

 

 

 

 

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